Conferência França 1991

Conferência de Sri K. Pattabhi Jois – França, Sábado, 24/08/1991
Tradução Fábio Furtado


Guruji:
todos os asana-s, você pega um a um. Este é o método correto. É o método verdadeiro. Você não deve fazer asana sem vinyasa. Não deve. Por quê?

Sem o vinyasa, não se deve fazer asana. Por quê? Você dobra uma parte (do corpo) – vocês estão entendendo? Por exemplo, Paschimottanasana, Ardha Badha Padma Paschimottanasana. Você faz com uma perna, flexiona uma perna e pega o pé por trás. Por quanto tempo? Muito tempo. Depois, pouca circulação de sangue (circulação restrita), que vai ficando parada em cada articulação. Em seguida de novo você levanta, salta novamente para trás, próxima postura, a outra perna agora. Depois, na hora de saltar, você contrai todo o corpo, não deve deixar solto demais, contrai (ao fazer vinyasa, o corpo precisa manter um tônus, em vez de ficar completamente relaxado). Assim, a circulação sangüínea automaticamente acontece. As dores rapidamente vão embora.

Você, sem vinyasa, ao fazer qualquer postura, todas as articulações ficam sem a circulação sangüínea direta. A circulação não acontece, fica parada lá (na articulação). Depois, você faz todas as posturas sentadas, todo o corpo doente, gradualmente a doença começa. “Ah, o yoga está me deixando doente – não estou gostando.” As pessoas começam a não gostar. Um outro asana: “Ah, é muito ruim. Fico com muita dor. Vou deixar essa asana pra lá. Não faça este asana!”. É o que alguns dizem. Por que isso? Porque o método não foi entendido. É por isso que você deve seguir este método – não haverá problema. O corpo também é muito perfeito. Vocês entendem? Este é o método.

Questão: Nas aulas para iniciantes, é correto, ao ensinar, pedir que os alunos façam menos vinyasas? Não muitos vinyasas e gradualmente solicitar que façam mais. É o correto? Para que não fiquem muito cansados.

Resposta:
Não, não. Com iniciantes você deve começar com o 1o Suryanamaskara por 3 vezes e com o 2o Suryanamaskara, também 3 vezes. No primeiro dia você ensina isso e durante uma semana não ensina mais nada. Não ensina asana. Pára totalmente nos Surya-s. Depois você vai ensinar. Uma semana, os mesmos Suryanamaskara-s. Depois você aumenta. Na segunda semana: posições em pé; Padangushtasana, Padahastasana, Utthita Trikonasana, Parshvakonasana – você passa as posturas em pé. Depois inclui Utkatasana, Virabhadrasana. Faz todas, Suryanamaskara, Trikonasana, Parshvakonasana, incluindo Utkatasana, Virabhadrasana, e não passa mais nada novamente por uma semana. Depois retoma com Paschimottanasana, Purvottanasana – e pára mais uma vez. Em outro dia, passa mais posturas.

Para a sua prática, é a mesma coisa. Só nos lugares onde eu vou para ficar apenas um mês ou 15 dias, uma ou duas semanas: nesses casos é que eu faço as práticas conduzidas. É por isso que vocês devem ir à Índia. Lá eu aplico exatamente este método. Vocês estão entendendo? É por isso que é diferente a maneira como eu ensino aqui e na Índia. De qualquer forma, quando um asana está perfeito, eu passo o seguinte. Se o asana não está perfeito, não passo o seguinte.

Questão: quando é bom fazer full vinyasa? Voltar para Samasthiti depois de cada asana. É correto isso?

Resposta:
sim, é correto. Você pega um asana e faz até terminá-lo. Depois você faz full vinyasa, vai para a posição em pé. Então o próximo. Você tem que estar atento à sua força (dependendo da sua força, você faz meio ou full vinyasa). Sem força, você pára no shat (sexto vinyasa). Conforme a sua força aumente, você faz full vinyasa. Atualmente, não tem mais tempo (muitos estudantes).

É o que eu digo. Um asana, por exemplo, Paschimottanasana, que tem 16 vinyasa-s, ou Purvottanasana, que tem 15, Ardha Badha Padma Paschimottanasana, Tiriang Mukaekapada Paschimottanasana, Janu Shirshasana A, B e C, Marichyasana A e B, todos com 22 vinyasa-s. Full vinyasa.

Fazer full vinyasa para todos os asana-s – é o melhor. Em segundo lugar, fazer todos os asana-s até o sexto vinyasa, nas passagens (nos saltos, ou “jumps”). Com o tempo você vai mudando, quando a sua força for maior você muda. Você faz o sexto, sétimo vinyasa Paschimottanasana. Depois 8-9, então salta de novo. Você vai para a sexta, “shat”, posição. É o que eu ensino, todo dia. Vocês devem seguir o mesmo método. Mas tanto full quanto meio vinyasa podem ser feitos.

O método é bom, sem dúvida. Existe o trabalho. A pessoa está indo trabalhar (para alguém que precisa trabalhar, o método de meio vinyasa é mais apropriado). Na sua prática de yoga você leva uma hora. Uma hora, duas horas – você vai aumentando o seu tempo. No momento em que for fazer todos os asana-s com full vinyasa, você vai precisar de pelo menos 5 horas, vocês entendem? Para fazer os asana-s da Primeira Série, você precisa de 5 horas, Esta é a razão. Você é uma pessoa que trabalha. Não pode usar todo o seu tempo para a prática do yoga.

Vocês entendem? Se você tem tempo integral, faça full vinyasa. Só para os asana-s da Primeira Série você leva 5 horas, com full vinyasa. A Primeira Série completa tem 50 asana-s. Estes 50 asana-s você levaria 5 horas para fazer com full vinyasa. Mas você tem que trabalhar. E trabalha em outro lugar. É claro, você precisa de dinheiro, você precisa comer, você precisa dessas coisas. São muito raros aqueles que podem dedicar todo o seu tempo para o yoga, e é muito difícil algo assim para você. É por isso que você opta por um corte. Uma ou duas horas. Duas horas, para a sua prática de yoga. É bom. Também é bom. Tudo bem, é o que eu digo.

Questão: no vinyasa, ao praticar o vinyasa, o estudante deve fazer o asana a fundo ou deve passar pelo vinyasa com leveza? Por exemplo, do chatwari, para ir para Urdhva Mukha Shvanasana, ele deve fazer uma flexão de coluna leve ou forte?

Resposta:
não, não uma flexão forte, rígida. É a mesma coisa. Com o vinyasa é a mesma coisa que com os asana-s, não se deve soltar. Significa que vinyasa deve ser tão perfeito quanto os asana-s? Sim, e é por isso que estou dizendo que se você fizer todos os asana-s perfeitamente, vai levar pelo menos 3 horas. Vocês estão entendendo? E é por isso que você faz cortes. Você faz em menos tempo. Mas faça a prática. Também é possível obter algum benefício. As Shastra-s (as escrituras) dizem o seguinte sobre vinyasa:

“Sem vinyasa, não faça asana!” Não faça. A prática pode se tornar muito prejudicial. Uma prática prejudicial não traz bom conhecimento.

Patañjali diz:

“yogaangaanusthaanaad ashuddhikshaye jñaanadiiptir aavivekhyaateh” (YS 2.28).
[Por meio da prática dos membros do yoga, há uma diminuição das impurezas e o cultivo da luz da sabedoria discriminatória.]

Isso é real. Mas “ashuddhikshaye” significa: o veneno que você tem dentro de si vai embora, sai completamente. Se o seu corpo está frouxo demais quando faz (se o corpo não está engajado ao praticar)... Você faz uma hora. Nada de suar. Está fazendo apenas pela posição. Do que adianta?! Você precisa fazer yoga de verdade, então deve seguir o mesmo método. E o método é este.

Questão: ao fazer o vinyasa, é correto parar por exemplo em Urdhva Mukha Shvanasana por mais que uma respiração?

Resposta:
apenas uma respiração, inspire, expire. Apenas uma. Inspire por 10 ou 15 segundos, então a expiração, também por 10 ou 15 segundos. Já falei isso 10 vezes e vocês não compreendem!

Questão: Yassin está perguntando se ele deve permanecer por mais tempo em Kurmasana ou nos back-bendings. Você comanda algo como 10 respirações para Kurmasana. E dá 3 vezes 5 respirações em Urdhva Dhanurasana. Yassim está perguntando se ele pode ficar por mais tempo. Ele gostaria de ficar mais, às vezes.

Resposta:
o que eu estou dizendo é: todos os asana-s você pode praticar por quanto tempo a sua força estiver lá. Uma pessoa pratica por muito tempo, faz 100 asana-s – um asana está perfeito. Por exemplo, está fazendo os asana-s sentados, com tempos mais longos, com 10 ou 15 respirações. É só praticar, e isso é tudo. Você pode praticar as sentadas com tempos muito longos, Kurmasana é uma postura que pode ter permanências muito longas, 3 horas, por exemplo. Mas você deve praticar de acordo com a sua força, então não haverá problema. A sua força torna possível 10 respirações, então você faz 10 respirações. É possível fazer 15 respirações, então você faz 15. É possível fazer 100? Você faz 100. Se faz 5, é porque é possível fazer 5. Pratique, é tudo. Estou dizendo apenas para praticar. Fixe a postura, totalmente perfeita. Asana, um asana siddhi, você faz 100 asana-s, um asana está se tornando bom, está vindo perfeitamente. É verdade.

“Sthirasukhamaasanam” (YS 2.46)

“Sthira” significa perfeito. “Sukha” significa felicidade. A postura em que você senta e fica muito feliz, sem dor alguma: esta é “Sthira Sukham”. Esta é que se chama asana. Vocês entendem?

(...) um asana está perfeito, perfeito, perfeito. Existe uma ligação de um asana a outro asana. A ligação está lá. Você faz aqueles asana-s, todos. Um a um. Um a um, todos você torna perfeitos. Depois você faz back-bendings. Asana-s com back-bendings. Entre os asana-s da Primeira Série (ou asanas primários), não há muitos back-bendings – vocês sabem. Com os asana-s itermediários, aos poucos, bem aos poucos, vai começando: Ustrasana, Laghuvajrasana, Kapotasana.

Depois que estes estão totalmente perfeitos, você vai para as posturas avançadas. São posturas com mais asana-s de back-bending: Tiriang Mukha Uttanasana, Padangustha Dhanurasana, Eka Pada Raja Kapotasana, Raja Kapotasana, todos asana-s de back-bending. Conforme as posturas avançadas forem aprendidas, cada vez mais há back-bendings. Mas sempre você faz uma a uma, para depois não ter problemas.

Você tenta as posturas primárias. “Olha! Meu corpo está dobrando! Então vou fazer mais back-bendings. Vou dobrar só para trás, tudo back-bending. Já que eu tenho facilidade, é onde eu vou praticar mais.” (Minhas costas são flexíveis, então vou dar mais ênfase nos back-bendings durante a prática.) Depois disso, começa a ficar doente. Não consegue andar. Muitas pessoas acabam sofrendo isso.

Por exemplo o Gary. Estou citando um exemplo. Gary Lapodota. Gary estava usando um livro. O livro do Iyengar. Ele pegou a prática totalmente desse livro. Depois ele se tornou meu aluno. Estou dizendo que eu não conhecia aquele homem. Oh, muito bom. Depois das posturas primárias, começou as intermediárias, e também as dores nas costas... Hoje inclusive ele está com esse problema. “O que você fez – me diga a verdade”, eu perguntei certo dia. “Ah, eu estava usando o livro e comecei a fazer todos os back-bendings...”

Você deve fazer as posturas primárias completamente! Depois você vai para as intermediárias. Torne-as perfeitas. Depois pegue as avançadas e torne-as perfeitas também. A doença vai embora. É possível viver por muito tempo. Este é o método.

É por isso que eu falo sobre as Shastra-s, Yoga Shastra-s. Você deve pegar os asana-s um a um. Somente um asana, depois outro asana. A ligação está lá. Sem a ligação, acabou.

Eu estava observando um aluno. Ele iniciou com a prática de yoga e começou a fazer back-bendings. Fez back-bendings e depois colocou as costas em Supta Uttana Shalabhasana. Fez Tiriang Mukha Uttanasana. Serge estava ensinando: depois eu o observei nas posturas primárias. Ele não tinha Baddha Konasana, Upavishta Konasana perfeitos. Os joelhos subiam totalmente. Um dia esse homem veio aqui. Depois, não apareceu na aula. Não veio mais. Um dia estava aqui, depois não vinha mais. Onde está esse aluno? Eu não sei. Procurei – ah, claro, está sofrendo mais. E vai sofrer mais ainda depois dos 40 anos.